14.3.08

Obras-primas da Santa Natureza (II): Ainda simetrias (a Harmonia das Estrelas)

por G.G. da Silva

Para a ciência, a simetria só tem valor quando corresponde à realidade. Uma das mais antigas simetrias que se conhece foi atribuída ao mundo por Pitágoras, há cerca de 25 séculos, segundo a qual o Sol, a Lua, cada um dos planetas e o conjunto das estrelas estavam fixos em esferas translúcidas, todas girando de forma independente em torno da Terra. O conjunto de esferas formaria o Céu, onde tudo seria perfeito, com movimentos em trajetórias circulares ou em combinações de círculos; na Terra estariam as imperfeições e os fatos imprevisíveis, como tempestades, trovoadas, estiagens. Essa concepção cosmológica, muito celebrada na antiguidade juntamente com a harmonia dos números e dos sons musicais, foi superada graças aos trabalhos de cientistas como o polonês Nicolau Copérnico, o alemão Johannes Kepler e o inglês Isaac Newton, ao longo dos séculos XVI e XVII. Pela causa, no entanto, houve quem morresse queimado na fogueira, como Giordano Bruno; ou quase, como Galileu Galilei...Um fato que ajudou a desbancar a crença nas esferas foi, justamente, a observação de uma quebra na simetria suposta e desejada. O astrônomo dinamarquês Tycho Brahe, que fora professor de Kepler, não acreditava nessa distinção entre o Céu e a Terra por causa do comportamento irregular dos cometas, os quais, apesar de pertencerem ao Céu, obviamente não possuíam movimentos circulares e, portanto, não eram perfeitos. Se algo no Céu não era perfeito então toda suposta perfeição seria suspeita. Qualquer cometa passou a ser observado, então, com muita curiosidade, pois poderia ser a resposta para uma relevante questão. Charles Messier (1730-1817), um astrônomo francês, era um “caçador de cometas”, principalmente pela beleza desses objetos, mas também, provavelmente, influenciado pelas questões levantadas por Tycho Brahe no século XVI. Messier começou a catalogar tudo que “não era cometa”, para poder se preocupar apenas com esses objetos. Até o final de sua vida, Messier relacionou mais de uma centena de “coisas”, chamando-as de M1, M2, M3 etc. designações ainda hoje utilizadas em sua homenagem. M31, por exemplo, é Andrômeda, galáxia muito maior do que a nossa; na verdade, Andrômeda comanda gravitacionalmente a Via Láctea e algumas outras galáxias menores agrupadas neste recanto do Universo. M74 é outra fantástica galáxia espiral, como se vê na foto, semelhante à nossa Via Láctea. M74 possui aproximadamente cem bilhões de estrelas e roda como um incrível carrossel, com sua harmoniosa simetria, não só espacial, mas também no tempo, pois recentes estudos levam a crer que os braços espiralados das galáxias espirais são decorrentes de sincronização – considerada uma simetria na dimensão tempo – dos efeitos gravitacionais laterais, entre as estrelas, planetas, objetos diversos, poeira e gases que ali se movimentam. Nos braços das galáxias espirais estão os berçários de novas estrelas, as quais se formam com gases, poeira e restos de estrelas de gerações anteriores, principalmente das supernovas que, ao explodir, espalham átomos pesados forjados em seus núcleos e que são necessários para geração e manutenção da vida. Somos todos formados do barro oriundo de estrelas explodidas...

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